Itanamara Guedes: sofro duplamente, por ser mulher e sindicalista
Presidenta da Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Sergipe (Fetam) fala sobre o machismo no movimento sindical e dos planos de representar as mulheres na política.
Publicado: 25 Fevereiro, 2019 - 14h13
Escrito por: Tanuza Oliveira/JLPolítica
Para além da política partidária, existem várias formas de lutar contra as desigualdades. Foi na luta sindical que Itanamara Guedes encontrou a dela. Graduada em Serviço Social e mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE -, ela ingressou no serviço público na administração municipal de Nossa Senhora da Glória em 2008, já como assistente social.
Em 2009, entrou no movimento sindical ao se filiar ao Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Glória, o Sindiserve Glória. No mesmo ano, foi eleita, por unanimidade, para assumir a Presidência da provisoriamente até a eleição, que ocorreu em março de 2010 e a consagrou presidenta para o período 2010-2013. Em 2013, foi reconduzida para o mandato de 2013-2016.
Hoje, acumula os postos de secretária de Comunicação do Sindicato e de presidenta da Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal do Estado de Sergipe – Fetam -, além de secretária de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores - CUT. Em todos esses espaços, a pauta feminina é preponderante.
“É de suma importância a participação das mulheres no movimento sindical, para que suas demandas estejam incluídas na pauta de reivindicação e de luta. Nós somos 51% da população brasileira, representamos 42% da população economicamente ativa, mas somos as mais atingidas pelo desemprego e pela precarização do trabalho e recebemos salário menor que o dos homens para desempenhar as mesmas funções”, avalia Itanarama.
“Nós ainda dedicamos duas vezes mais do nosso tempo às atividades domésticas do que os homens, o que significa que trabalhamos, no total, cerca de 5 horas a mais que os homens, o que representa uma média de 55,1 horas por semana, enquanto os homens trabalham 50,5 horas”, completa. Por isso, segundo Itanamara, a temática da participação feminina sempre foi um debate presente no âmbito sindical trazido pelas mulheres trabalhadoras.
Nesse cenário, elas problematizam as dificuldades que enfrentam para participarem do movimento sindical e para ocuparem os cargos de direção. “E reivindicam que o movimento sindical tenha política para estimular a organização e a participação política das mulheres e para enfrentar as desigualdades de gênero no mundo do trabalho”, acrescenta.
Aliás, segundo Itanamara, a luta das mulheres, ao longo dos últimos anos, resultou na criação de diversos coletivos femininos e diretorias da mulher trabalhadora dentro da estrutura sindical. “A conquista mais recente foi a paridade entre homem e mulher dentro da direção da CUT, no congresso da entidade em 2015”, revela. Mas a pauta de reivindicações vai além e está presente nas bandeiras de luta do movimento sindical em si, como igualdade salarial entre homens e mulheres, desprecarização do trabalho, etc.
“Os pilares da sociedade patriarcal e sexista estão na divisão sexual do trabalho, que atribuiu ao homem o espaço do trabalho e a esfera púbica, e às mulheres, o espaço privado, a procriação e o cuidado”, critica. Por isso, participar dos espaços púbicos da micro e macropolítica é tão importante: ajuda a desconstruir esse papel que historicamente foi atribuído as mulheres de que seu lugar é somente a esfera privada.
“E nesse processo encontramos resistência e preconceito dentro das organizações políticas que não estão acostumadas com a presença das mulheres e ao seu modo de fazer política, além de resistência na família e na sociedade, já que vivemos em uma sociedade machista”, diz. Mas Itanamara confessa que entende o preconceito como a resistência que encontra diariamente para afirmar que o lugar de mulher é na política e é onde ela quiser.
“Defendo que as mulheres ocupem os espaços de poder, como a macropolítica, pois é necessário e urgente se fazer uma reforma política nesse país, para que os diversos segmentos da sociedade possam ter voz e representação, como as mulheres, negros, jovens, LGBTQI, entre outros. As mulheres representam 51% da população e 52% do eleitorado brasileiro, mas quando observamos as mulheres estão sub-representadas na esfera do poder político”, reforça.
Nessa perspectiva de construção coletiva da qual ela faz parte, que alia a luta feminista à sindical, Itanamara não descarta migrar para a política partidária. “Não se trata de um interesse individual de disputar cargo, mas se for de interesse coletivo, disputo”, reitera, reafirmando seu compromisso com a luta pelas mudanças que são necessárias e urgentes – embora não sejam fáceis, como ela mesma diz.
“Ser mulher militante em uma sociedade em que avança o conservadorismo é extremamente difícil e desafiador. Sofro duplamente: pela condição de ser mulher e pela condição de ser uma militante social e sindical”, lamenta. Isso porque, para ela, a conjuntura é cada vez mais difícil e fruto de uma escalada sem precedente do ódio, da intolerância, da desumanização das relações sociais.
“Além da avalanche de mentiras, existe um componente que contribui para distorcer a luta das mulheres feministas o fundamentalismo religioso pregado por algumas religiões. Esses elementos têm contribuído para descaracterizar o feminismo tanto no seu campo teórico, quanto no político, distorcendo as causas da luta feminista”, ressalta.
Luta essa que é – pasmem – pelo direito de viver uma vida sem violência, pelo respeito à diversidade. “Somos mulheres, somos mulheres negras, trans, do campo, da cidade, ribeirinhas, que queremos respeito e igualdade, e não ser tratadas como mercadorias nesse sistema capitalista patriarcal para sermos exploradas e oprimidas”.