Esperança de Paulo Freire nos chama para a luta
Idealizador da Pedagogia do Oprimido, Freire é inspiração para a formação sindical da CUT e tem servido como alento para resistência
Publicado: 08 Dezembro, 2016 - 12h35
Escrito por: Walber Pinto
Em tempos de ataque frontal à educação pública, o seminário "Educação e o Mundo do Trabalho", realizado nesta quarta-feira (7), em Florianópolis, evocou os princípios de Paulo Freire para não perder a esperança e o ‘fogo’ da luta.
Idealizador da “Pedagogia do Oprimido” e o mais célebre educador brasileiro, Freire foi homenageado durante a abertura do evento com uma apresentação cultural política e poética e com uma praça onde será o espaço de debate.
O seminário, promovido pela Secretaria Nacional de Formação da CUT, acontece entre os dias 7 e 8 de dezembro, em Floripa. O encontro também celebra os 20 anos de educação integral da Central e daqui sairá a “Carta de Florianópolis” construída coletivamente com o posicionamento da CUT em defesa da Educação.
Para Rosane Bertotti, secretária nacional de Formação, o seminário faz parte de uma construção coletiva para reforçar a necessidade do diálogo afim de construir a esperança. “Aqui faremos um debate da educação popular, que também é fundamental e precisamos olhar para este ensino e construir de forma coletiva. Façamos desse encontro um espaço de formação, um ato pedagógico, como diz Paulo Freire”, disse Bertotti.
A dirigente explicou a importância do seminário para lutar contra as medidas do governo Temer à educação pública. “Devemos olhar para a história e dizer que não aceitamos uma escola onde não tem espaço para negros e negras e onde não discute a orientação sexual. Não queremos uma escola sem partido e nem a reforma do ensino”, reiterou.
A reflexão de Bertotti também foi compartilha pela presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT), Vilani Oliveira.
“O cenário nos faz refletir para entender Paulo Freire. Nós já vimos esse filme contra a educação em tempos de golpe. Esse ataque vai à escola com a perspectiva de amordaçar alunos e professores. É necessário transformar esse espaço de luta num espaço de encantamento para ocupar as ruas, as praças”, alertou.
De acordo com Marta Vanelli, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a PEC 55, a reforma do ensino e a escola sem partido são uma ofensiva aos profissionais da educação. “A PEC na educação pública é um ataque jamais visto e essa medida provisória do governo, é um engano à sociedade”.
“As medidas são para privatizar a educação e uma realidade que já existe. Para que os trabalhadores possam entender seu papel na história, a nossa formação tem que seguir o exemplo que Paulo Freire nos ensina”, realçou representante da Confederação Nacional dos Transportes em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE), Gisele Vargas.
A Escola de Turismo e Hotelaria e Formação Sindical da CUT tem servido como um espaço de construção e resistência dos trabalhadores nos últimos anos.
A prioridade é investir cada vez mais na formação dos dirigentes, lembrou Sérgio Nobre, secretário–geral da CUT. “Nossa grande prioridade é investir na formação porque dá retorno, é o espelho da Central. Vamos investir cada vez mais na formação e na comunicação que são ferramentas estratégicas para derrotar o golpe”, finaliza o dirigente.
Retomar a esperança
Na segunda parte da atividade, o professor e fundador do Instituto Paulo Freire, José Eustáquio, abordou os desafios para retomar a esperança e alertou para outros golpes contra a educação.
“Vários golpes silenciosos estão sendo organizados contra a educação e a imprensa não dá um alinha. Isso que está sendo mostrando aqui é a ponta do iceberg que Paulo Freire já mostrava. O grande golpe que está sendo armado ainda não foi dado, está no horizonte da burguesia brasileira e das classes dominantes”.
O professor explica que o pensamento de Freire não entrou para a educação porque é uma ameaça aos ‘intelectuais orgânicos da burguesia’. “São as elites mais perversas que temos no mundo. Quem está dividindo o país em duas classes são eles, quem fez e quem faz essa divisão violenta são eles”, sinalizou.
A mediação foi feita pelo secretário nacional de Comunicação, Roni Barbosa e Maria Faria, secretária-adjunta da Geral. A atividade segue até quinta-feira, 08.
PEC 55 é a marca do retrocesso na educação
Na tarde desta quarta-feira, 7, as vozes dos estudantes secundaristas, representados por Ana Júlia Ribeiro, profissionais da educação e juventude participaram do seminário. Ana Júlia, de 16 anos, ficou conhecida nacionalmente ao discursar na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), em Curitiba, em defesa do movimento da ocupação das escolas públicas no país. Ao participar do seminário, ela criticou a repressão da polícia de Brasília na manifestação contra a PEC 55 no último dia 29.
“Os estudantes de toda parte do Brasil foram à capital federal protestar contra a PEC e fomos impedidos de nos manifestar, pois a polícia agiu de uma forma que não dá para aceitar. Não vi essa repressão no ato do dia 4 da direita”, disse, lembrando ainda que a aprovação da PEC será uma marca do retrocesso na educação pública.
A secundarista ressaltou também que as ocupações que tomaram conta do país foram uma resposta ao governo que tenta criminalizar o movimento estudantil. “Foi na ocupação que vimos a possibilidade de mostrar nosso protesto porque ninguém estava nos ouvindo. O movimento vem da periferia de São Paulo que ocupou as escolas no final de 2015, foi lá que começou”.
Educação Integral dos Trabalhadores e Trabalhadoras
A professora da Universidade Federal de Rio Grande do Sul (UFGS), Maria Clara Bueno, encerrou a última mesa apresentando estratégia de luta e resistência em defesa da educação integral dos trabalhadores. Ela aponta que o desafio do movimento sindical é considerar no processo de formação a diversidade de gênero.
“É necessário considerar, compreender quais setores serão envolvidos e de que forma serão envolvidos no processo formativo proposto. A palavra ação, quando se nomeia algo, se atribui responsabilidade sobre o objeto nomeado, como disse Paulo Freire”, diz a professora. De acordo com ela, a CUT tem construído sua política de formação e ação que atinge uma parcela da classe trabalhadora.
“A formação tem um lugar autônomo, mesmo dentro do processo de produção da central. O Lugar da educação é complexo e tenso dentro dos movimentos. Logo, é um lugar de distanciamento necessário para o processo de formativo”, reafirma.
A exposição sobre o cenário das políticas públicas de educação e trabalho na perspectiva do trabalhador ficou por conta do representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, José Ribamar, da Confederação Nacional dos Transportes em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE) e Alex Sandro, da Confetam/CUT.
Veja as principais falas dos dirigentes.
“As entidades de ensino superior estão passando por um processo de centralização, com a formação de grandes grupos empresariais, alguns com ações negociadas na bolsa de valores” - José Ribamar Barroso.
“Atualmente a educação é reduzida ao treinamento de trabalho simples. A avaliação externa tira a responsabilidade dos professores na avaliação dos alunos" – Alex Sandro.
“Os valores sociais, ordem social e ordem econômica, são os fundamentos que informam o enquadramento específico que tem a educação e o trabalho em nosso país. E indicam a distância entre o que está 'escrito' e o que estão implementado 'na realidade' " - Heleno Araújo.