Conjuntura: o mínimo que esperam de nós é uma insurreição
Para a secretária-geral da Rede Nacional Feminista de Direitos Reprodutivos e Sexuais, a atual conjuntura exige uma insurreição como resposta e a transformação da história pelas forças sociais
Publicado: 04 Maio, 2016 - 13h58
Escrito por: Confetam
Uma mesa formada por nomes de peso reunidos em torno de uma profunda análise sobre a atual conjuntura brasileira marcou a abertura do segundo dia de debates do II Congresso Extraordinário da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam), na manhã de 28 de março, na Escola Sindical Sul de Florianópólis (SC).
Juntos, Clair Castelo, secretária-geral da Rede Nacional Feminista de Direitos Reprodutivos e Sexuais, Éder Martins, professor de História e mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina, Marilane Teixeira, economista e integrante do Fórum contra a Terceiização, e Aparecido Donizeti Silva, secretário adjunto de Finanças da CUT, fizeram um diagnóstico da crise econômica/política do Brasil e apontaram caminhos para a afirmação e o fortalecimento da democracia, atualmente ameaçada no País.
Ser democrático é ser de direita?
"Para a direita, ser democrático é ser de direita e liberdade é ser capitalista. Para eles, ser de esquerda é ser ditador. Esta conjuntura é basicamente a mesma em todo o mundo. Precisamos refletir sobre o que nos levou a isso", propôs a professora Clair Castelo.
Segundo ela, o mundo chegou num ponto de crise histórica no qual as forças geradas são suficientes para destruir o meio ambiente, sendo a ecologia uma questão central. "Senão, não teremos nem sequer um lugar para fazer a luta de classes", alertou a professora.
Ela criticou entidades cartoriais, com direções que se apropriam da fala dos trabalhadores, mas não repassam o conhecimento para a base. "Elas se apropriam do poder da entidade, que passa a não ter poder se não tiver base".
Economia substituiu a política
Para a professora, há uma ótica economicista, na qual a economia substitui a política, que deveria se organizar em função do social. Quando isso não acontece, tudo se transforma em mercadoria e diminuem os direitos.
"Há países que poderiam acabar com a fome, as epidemias, mas isso não acontece porque não interessa ao Capital. Cidadania é coisa chata porque cidadão se sindicaliza, reinvindica, cria caso e luta por seu destino. Então, bom mesmo é pobre", ironizou.
O pensamento dos "coxinhas" seria um exemplo típico dessa decadência. "É a arrogância de um sociedade que ostenta a riqueza aos olhos de quem não tem nada".
A raiz do ódio
A professora ensina que o capitalismo se reproduz e acumula, por meio da exclusão crescente da maioria da sociedade, polarizando os blocos da carência e do privilégio absolutos.
"Esta é a raiz do ódio gestado de 2003 para cá, porque se ampliou o poder de consumo e se retirou os pobres da miséria absoluta. É nesse contexto que a democracia é atacada, porque não é um valor fundamental para o capitalismo", denunciou.
Enfrentar a guerra ideológica é o primeiro passo para fortalecer a democracia, aponta a professora Clair Castelo. "Palavras são signos para lutas das arenas políticas. A nossa luta é convercer os outros da realidade, que o mundo é injusto e tem de mudar. É estudar, refletir, debater, compreender os signos e lutar", apontou.
Luta de classes atual
Para a professora, as esquerdas correm o risco de pagarem um "preço suicida" por ignorarem conceitos considerados antigos , como o da luta de classes. "São conceitos científicos de importância chave para a compreensão. Podem ser antigos, mas não antiquado, não estão superados. É como a Lei da Gravidade", comparou.
Para exemplificar a luta de classes explícita no Brasil atual, ela questiona. "Quem está financiando o golpe (impeachment da presidente Dilma)? Todas as entidades empresarias. Quem está na luta? A CUT, o MST, a CTB, os partidos de esquerda".
O problema não é a Dilma
Na verdade, afirma Clair, o governo Dilma não causou a crise no Brasil. A globalização seria o motivo das crescentes desigualdades e pobreza no mundo. "Não é a Dilma, é uma situação mundial de exploração capitalistas. Pela primeira vez na história da economia mundial, os Estados perdem poder e são substituídos por um mercado de brutal concentração de renda".
Mas afinal, quem é o "mercado"? "É um pequeno grupo de multimilionários, investidores, especulares, rentistas e seus empregados -, jornalistas e escritores de Economia. Ele tem a necessidade de nos alienar para nos manter subordinados. Então, para manter o mercado funcionando, tem de dar golpe", justificou.
Golpes na América Latina
De acordo com a professora, a América Latina tornou-se um laboratório de implementação de políticas à esquerda e cada vez mais os EUA aprenderam a derrubar com golpes brandos quem os perturbam, sem derramamento de sangue, atingindo dirigentes que chegaram ao poder na Venezuela, Haiti, Bolívia, Honduras, Paraguai e Brasil.
"Esses golpes ou tentativas ocorrem a partir de uma ação conjunta entre mídia, Judiciário, Legislativo e partidos de oposição, que usam o processo de desestabilização e o levante da sociedade civil. Assim, vão destruindo a governabilidade e preparando o golpe, como no Brasil", exemplificou.
Ela explica que do recrudescimento do capitalismo, da polarização e das incertezas sociais, surgem forças sociais e políticas fundamentalistas, obscurantistas, como a chamada "bancada BBB" do Congresso Nacional. "É a turma da bala (militares e apresentadores de programas policiais), do boi (agronegócios) e da bíblia (fundamentalismo religioso), as três retrógradas que sempre contaram com o poio de oportunistas e dos setores financeiros".
Bloco revolucionário
Para a professora, o golpe de Estado em curso no Brasil tem origem e destino: entregar o pré-sal e as demais estatais, além de reagir ao surgimento de forças políticas progressistas. "Agora a humanidade entra como um bloco revolucionário na cena histórica. Por isso, a fúria deles em destruir a América Latina, que se contrapõe à lógica da dominação".
Por fim, ela assinala duas grandes mutações que a espécie humana precisa enfrentar, a tecnológica e filosófica. "Temos de interpretar o mundo para transformá-lo".
A saída dessa conjuntura, aponta, passa obrigatoriamente pelo caminho da insurreição e da transformação da história pelas forças sociais. "É o mínimo que esperam de nós", concluiu.
Confira a fala dos demais palestrantes nas próximas publicações sobre o II Congresso Extraordinário da Confetam.