Confetam reúne lideranças para debater saúde no serviço público
O evento virtual reuniu lideranças sindicais de todo o Brasil, e antecipou os debates da 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT), prevista para este ano.
Publicado: 23 Abril, 2025 - 22h23
Escrito por: Alison Marques

A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal - CUT (Confetam/CUT) realizou, nesta terça-feira (23), a 1ª Conferência Nacional Livre de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, com o tema “Saúde do Trabalhador em tempos de precarização do trabalho!”. O evento virtual reuniu lideranças sindicais de todo o Brasil, e antecipou os debates da 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT), prevista para este ano.
Com foco no Eixo II, que tem como tema “As novas relações de trabalho e a saúde do trabalhador e da trabalhadora”, a conferência promoveu reflexões sobre os impactos das transformações no mundo do trabalho, com destaque para o avanço da terceirização, vínculos precários, adoecimento mental e assédios no serviço público.
A médica e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, foi enfática ao afirmar que o país vem naturalizando relações de trabalho degradantes, muitas delas sem direitos básicos. “Estamos nos acostumando com formas de trabalho que produzem sofrimento, doenças e até mortes. O trabalho por aplicativo é o exemplo mais visível, mas temos categorias como bancários, metalúrgicos, guardas de trânsito e trabalhadores da limpeza urbana que vivem submetidos a pressões insustentáveis, metas abusivas e falta de reconhecimento”, destacou.
Ela alertou ainda para o descaso com a saúde do trabalhador: “As empresas falam em sustentabilidade, mas se esquecem de que não há país sustentável sem saúde do trabalhador. Precisamos de políticas nacionais fortes, que atravessem o país e envolvam todos os movimentos sociais”, enfatizou Maria Maeno.
A presidenta da Confetam, Jucélia Vargas, reforçou as críticas à postura de muitos gestores municipais. “Ainda enfrentamos uma imensa dificuldade quando o assunto é saúde do trabalhador no serviço público. Muitos gestores enxergam os trabalhadores apenas como números e se recusam a discutir assédio, sobrecarga, doenças mentais e más condições de trabalho. Por isso essa conferência é tão simbólica: estamos colocando a vida desses trabalhadores no centro do debate”, afirmou.
A conferência também deu voz à saúde mental, tema que permeou todas as falas. Os participantes relataram casos crescentes de depressão, burnout, crises de ansiedade e outros transtornos associados ao ambiente de trabalho.
A secretária de Políticas Públicas e Sociais da Confetam, Irene Rodrigues, destacou o caráter histórico do evento, aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde, e a urgência do tema escolhido. “As novas relações de trabalho estão adoecendo os servidores públicos. Temos no Brasil um mosaico de contratos: terceirizações, temporários, celetistas, estatutários... E isso gera insegurança, desigualdade e sofrimento. Precisamos de um sistema nacional que enfrente essa realidade com coragem, e que assegure dignidade, saúde e respeito a quem faz o serviço público acontecer nas cidades”, declarou.
A conferência teve mediação de Irene e do secretário de Comunicação da Confetam, Célio Vieira, e reforçou o compromisso da entidade com a construção de propostas concretas para a valorização do trabalho no setor público. “Este momento é um marco importante na luta pela valorização da saúde do trabalhador. Não podemos mais permitir que as transformações no mundo do trabalho sigam afetando a saúde mental e física dos servidores públicos. É essencial que sejamos protagonistas na formulação de políticas públicas que garantam dignidade e respeito para aqueles que, diariamente, tornam o serviço público uma realidade”, comentou Célio Vieira. Ao final, os participantes defenderam a necessidade de fortalecer o SUS, ampliar o controle social e consolidar políticas públicas que coloquem a vida e a saúde dos trabalhadores no centro do projeto de país.
O evento culminou na construção coletiva de propostas que serão levadas à 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, fortalecendo a participação social na formulação de políticas públicas. Ao final da conferência, também foi realizada a eleição dos(as) delegados(as) que representarão os servidores e servidoras municipais nesse espaço estratégico de debate e defesa da saúde laboral no país.