Bolsonaro escolhe professor colombiano de ultradireita para o MEC
Futuro ministro da Educação defende o Escola sem Partido, crítica o Enem e é autor do livro "A Grande Mentira. Lula e o Patrimonialismo Petista". Educadores dizem que Rodríguez vai fazer "maldades".
Publicado: 23 Novembro, 2018 - 16h20
Escrito por: Déborah Lima

Um professor colombiano de ultradireita, absolutamente desconhecido na comunidade educacional brasileira, indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho, um dos ícones do conservadorismo no Brasil, será o próximo ministro da Educação. A confirmação do nome de Ricardo Vélez Rodríguez pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), ocorrida na noite desta quinta (22), sinaliza claramente o futuro tenebroso da Educação no país.
Defensor do projeto "Escola sem Partido" e crítico ferrenho do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ele define como um "instrumento de ideologização", caberá a Rodríguez a tarefa de colocar em prática o mirabolante plano de governo de Bolsonaro para a Educação.
Missão: tirar sandices no papel
Entre diversas maluquices, o plano propõe “dar um salto de qualidade na educação com ênfase na infantil, básica e técnica, sem 'DOUTRINAR' ”; ter, em dois anos, um colégio militar em todas as capitais; mudar conteúdo e métodos de ensino: “Mais matemática, ciências e português, SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE”; dar prioridade à educação básica e ao ensino médio/técnico: “Quanto antes nossas crianças aprenderem a gostar de estudar, maior será seu sucesso”; fomentar o empreendedorismo “para que o jovem saia da faculdade pensando em abrir uma empresa”; e utilizar a educação a distância como “alternativa para as áreas rurais onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais”.
Se a missão for realmente essa, Bolsonaro escolheu o nome certo para desempenhá-la. O pensamento de Rodríguez sobre Educação reflete exatamente o ideário fascista do futuro presidente. Os posicionamentos risíveis, porém preocupantes, estão explícitos do blog do próximo titular do Ministério da Educação (MEC): "a proliferação de leis e regulamentos sufocou, nas últimas décadas, a vida cidadã, tornando os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de 'revolução cultural gramsciana', com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero, a dialética do 'nós contra eles' e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados 'intelectuais orgânicos', destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo".
Pensamento retrógrado preocupa educadores
O pensamento retrógrado do futuro ministro faz corar os verdadeiros educadores. "Isso é um absurdo, mais um grande retrocesso. Um colombiano que odeia petistas com certeza vai acabar com o Enem, com todos os programas de financiamento estudantil e de pesquisa, como o Ciência sem Fronteiras. Não temos dúvidas disso porque ele deixou claro que todos esses projetos são 'ideológicos' e 'marxistas' para 'doutrinar' a nossa juventude, as nossas crianças", dispara a professora Vilani Oliveira, presidenta da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT).
Entre as "obras" escritas por Rodríguez, destaque-se "A Grande Mentira. Lula e o Patrimonialismo Petista", publicada em 2015. A contracapa do livro diz que o PT chegou a "potencializar as raízes da violência", por meio da divulgação "de uma perniciosa ideologia que já vinha inspirando a ação política do Partido dos Trabalhadores: a 'revolução cultural gramsciana'".
Estrago imensurável para o Brasil
Para a presidenta da Confetam/CUT, de todas as notícias ruins advindas do futuro governo Bolsonaro, a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez para o MEC foi a pior de todas. "A indicação dele foi pior do que a do Sérgio Moro, porque o juiz que prendeu Lula sem crime nem provas vai fazer as maldades enquanto ministro da 'Justiça'. Mas Rodríguez vai fazer maldades com a formação de seres humanos enquanto ministro da Educação. É algo muito preocupante. O estrago será tão grande que a gente não consegue nem mensurar agora o tamanho do prejuízo", avalia Vilani Oliveira.